sábado, 5 de maio de 2007

Por Trás do "por trás das grades"

“Tudo é prisão em torno de mim ; acho-a sob todas as formas , tanto nos homens , como nas grades ou nos ferrolhos . Esta parede é a prisão de pedra ; esta porta é a prisão de madeira ; estes carcereiros são a prisão em carne e osso . A prisão é uma espécie de ser horrível , completo , indivisível , metade casa , metade homem . Eu sou a sua presa ; ela esconde-me , enlaça-me nas suas dobras , encerra-me sob suas muralhas de granito , prende-me com suas fechaduras de ferro e vigia-me com seus olhos de carcereiros .”
“[...] Agora tudo está acabado , bem acabado .”
“[...] Agora louvado Deus , já nada espero !”

Trechos do livro Último dia de um condenado , cujo autor é Victor Hugo .

Penso eu como seria se ao invés da personagem do livro narrar o que sentia em uma prisão européia , narrasse o que sentia se estivesse preso , detido ou até mesmo condenado em uma prisão tupiniquim "made in Brazil", essas mesmas que ostentam em largas letras a mensagem “Segurança Máxima” . Acredito que no segundo dia já seria possível dizer : Máxima ? questionando e seguido de riso por entre lábios .
Isso se deve a uma fragilidade do sistema penitenciário Brasileiro , ou melhor , do sistema de acomodação brasileiro aonde alguns poucos se vêm em seus próprios lares e desfrutam de luxos que os pobres mortais honestos muitas vezes não podem ter .
*Prisão Militar do Ceará – Lá , presos militares encomendam mortes para que se eliminem provas e se arquive o processo por falta das mesmas .
*Prisão de segurança máxima de Bangu – Disponibilidade de linhas telefônicas de todas as operadoras e com serviços de recarga a base de trote-seqüestro e etc.. !




Assim as prisões tupiniquins poderiam ser reescritas pelo autor do livro como sendo :

“Tudo é prisão em torno dos que ficam fora dela (os honestos) , pois aqui não a acho sob nenhuma forma , tanto nos homens , como nos que pensam que aqui existem grades ou ferrolhos . Esta parede é a prisão de areia (se eu cavar consigo fugir) , esta porta é sempre aberta ; estes carcereiros são os mal pagos do Estado em carne e osso . A prisão é uma espécie de ser maravilhoso , completo , divisível (para pobres e ricos) , metade casa , metade homem . Eu sou seu gerente (mando e desmando ) , ela finge que me esconde , e enlaça-me com suas frágeis dobras , encerra-me com suas muralhas de corrupção , prende-me com suas fechaduras de chocolate e vigia-me com seus olhos de cegos .”
“[...] Agora tudo está confortável , bem confortável .“
“[...] Agora louvado Deus , tudo espero .“

Citações : “Eu vi a escada e subi ...fuga foi fácil e tranquila” (Roberto Aparecido Alves de Souza, o Champinha, de 20 anos acusado pela assassinato dos estudantes Liana Friedenbach, 16 e Felipe Silva Caffé, 19 )
: “Não me conformo com essa prorrogação, não há nenhuma necessidade. A investigação pode ser feita independente da privação de liberdade. Essa é uma punição desnecessária”, (Advogado Nélio Machado cujos clientes inofensivos são somente o presidente das Ligas Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa), Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, e o desembargador federal do Rio de Janeiro, José Ricardo de Siqueira Regueira)

2 comentários:

Anônimo disse...

Saudações, prezado Bucentauro! Realmente, o sistema penitenciário brasileiro está longe (anos-luz) de cumprir adequadamente às suas metas fundamentais, que seriam a privação da liberdade como punição pelo crime praticado e a reeducação do condenado para a sua posterior reintegração à sociedade. É preciso também salientar que nem todos os detentos desfrutam das "aconchegantes" instalações prisionais. O interior dos presídios brasileiros reproduzem o sistema hierarquizado que compõe o crime organizado. Portanto, desfrutam de certa comodidade apenas os "papas" da bandidagem que habitam os cárceres. Aos demais, cabe o papel de servirem como "criados" dos "senhores", que, muitas vezes, assim o fazem por medo. E isso é o que faz da prisão a "escola do crime". Na maioria de nossas cadeias, colocam-se na mesma cela condenados por crimes leves e por crimes hediondos. Enfim, o problema é extremamente complexo e mudar essa realidade não depende apenas de mudar a lei. Depende, na verdade, que se faça cumprí-la. De que vai adiantar colocar menores de 18 ao lado de outros tantos criminosos das mais variadas categorias? Ao meu ver, se o nosso sistema prisional não passar por uma profunda reforma, apenas se contribuirá para aumentar a diversificação das categorias criminosas nestas "escolas" e sua conseqüente especialização e aperfeiçoamento. Grande abraço!

Bucentauro disse...

Olá Camarada Debson , muito enriquecedor seu comentário , de fato é preciso ressaltar que muitos padacem e não possuem as ditas regalias afinal são meros "ladrões de galinha" em oposição aos "papas" do crime que mandam e desmandam .Agora lhe digo mais se formos de fato cumprir as leis e executarmos todos as presos vamos ter que criar um Estado dentro da federação só para bandidos pq Já é muito alto o número de dententos . Entretanto estudos comprovam que muitos dos presos poderiam ter suas penas trocadas de restritiva de liberdade por restritivas de direitos e cumprir prestações pecuniárias ou beneficiárias (como trabalho não remunerado de algumas horas do dia )educacionais . Mas o sistema quer dar uma de eficiente ! só que pra cima de "muá" não !

*:/Parece que mua quer dizer "eu" em francês..sei lá !