quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Buscando o absurdo em A. Camus

Seria possível uma lógica que levasse o homem de sua vida até sua morte? Para A. Camus sim e suas explicações apresentadas no mito de Sísifo dão-nos a entender que viver num mundo totalmente fundamentado no pensamento racionalista configura desde o início nossas falhas obtemperando qualquer pretensão de escolha no saber ou até mesmo na forma de viver. Por isso negar a razão é inútil, mas é justamente esse sentimento de frustração numa luta incessante que cria o absurdo. Seria nas palavras de A. Camus o “divórcio entre o homem e sua vida, o autor e seu cenário”
Suscitar essa busca do absurdo implica em desafiar na metafísica de nosso mundo interior o encontro de uma das tantas verdades que podem existir. Essa verdade absurda cuja localização está entre paradoxos pode surgir de várias formas, principalmente quando a razão entra em choque com a inteligência e necessariamente quando isso acontece tem-se o esperado absurdo. Esse Bucenturo confessa que a luta é árdua.
Por que lutar então? (Muitos poderiam pensar). Se Sócrates fosse indagado, responderia “conhece-te a ti mesmo”; S. Freud, por sua vez, poderia dizer que “as vezes um charuto é somente um charuto” e você pensando com a inteligência sem razão se perguntaria “até onde eu me conheço?” ou “quando que um charuto não é um charuto?”. Para tanto Diz Albert Camus : “[...] vocês me ensinam que este universo prestigioso e multicolor se reduz ao átomo e que o próprio átomo se reduz ao elétron. Tudo isto é bom e espero que vocês continuem. Mas me falam de um sistema planetário invisível no qual os elétrons gravitam ao redor de um núcleo. Explicam-me este mundo com uma imagem. Então percebo que vocês chegaram à poesia: nunca poderei conhecer. Tenho tempo para me indignar? Vocês já mudaram de teoria. Assim a ciência que deveria me explicar tudo acaba em hipótese, a lucidez sombria culmina em metáfora, a incerteza se resolve em obra de arte. Que necessidade havia de tanto esforço?” ¹
Diante disso o autor desenvolve como fica o comportamento do homem que consegue evoluir a essa antilógica que é o absurdo. E em suas observações revela que pode o homem diante das conseqüências do absurdo: 1- Revoltar-se; 2- Sentir uma liberdade 3- Sentir uma paixão. Assim para o autor toda essa busca ocasiona um retorno para um lugar onde talvez uma nunca esteve mas que certamente existe porque foi criado pelo homem para a humanidade, mas infelizmente foi abandonado em algum lugar da história. Esse lugar é a consciência e o processo que permite seu retorno é a busca do absurdo.
O sentimento que comprova a chegada a algum lugar é quando se percebe que tudo que era vão vai se tornando real. É quando a mágica das aparências começa a desaparecer e o que era aparente, placebo de uma realidade fugaz e racional transforma-se em essência para um nada. No abismo onde o nada é profundo é que residirá o absurdo, potente em sua inexistência nostálgica e apurada com a descoberta dos paradoxos desapaixonados. Eis as coordenadas companheiros, lançai-vos em nome da vida enquanto é prematura nossa morte.
¹Albert Camus in "O mito de Sísifo". Editora Record.2008