sexta-feira, 1 de maio de 2009

CONSCIÊNCIA


Segundo o dicionário Aurélio que traz 5 definições sobre o termo, a mais interessante seria a classificação de consciência como “um atributo pelo qual o homem pode conhecer e julgar sua própria realidade.”

A própria condição humana demanda consciência. Uma consciência de existir, de saber que ocupa um lugar no espaço e exercer uma atividade em realidade espacial que reclama cada vez mais consciência. René Descartes resumiu bem esse pensamento quando disse: “Penso, logo existo !”

Estar ou ser consciente também provoca uma reflexão. Estar consciente do seu papel como cidadão implica em ir as urnas e votar em determinado candidato ou partido. Já ser consciente sobre o seu papel de cidadão implica em necessariamente cobrar de seu escolhido durante todo tempo do mandato que você o outorgou uma postura condizente com suas promessas.

A consciência rege tudo e até sua falta influencia a regência do mundo. O sentir consciente, a ação consciente, o viver consciente tudo reclama e exige um tipo de consciência que se relaciona com uma capacidade inerente a realidade. A. Camus traz aquela que deve ser a consciência do homem que pretende encontrar o absurdo, dizendo : “Buscar o que é verdadeiro não é buscar o que é desejável.” eis a consciência com qual o autor nos faz refletir.

Estaríamos conscientes do mal que praticamos mesmo quando o justificamos? O Behaviorismo pretende em nome da ciência justificar. Watson, exemplo fiel de um típico behaviorista, entendia que o comportamento era a única finalidade com que a psicologia deveria se preocupar. Para o mesmo, encontrar soluções que inibissem a consciência era encontrar a resposta ideal que justificasse sua premissa sobre o papel definitivo que a psicologia tem como ciência. O próprio método experimental foi desenvolvido com o propósito de reter a consciência objetivando com isso determinar o comportamento.

O papel consciente do homem lhe permite pensar (ou achar que pensa), pensando o homem é capaz de praticar seus acidentes num tempo e espaço alterando, criando ou modificando sua realidade. Na consciência reside a forma pelo qual o homem se torna senhor de suas atividades e até senhor das atividades alheias ou por que não vítima de sua consciência e da consciência alheia..enfim. Mas a consciência pode ser forte ou frágil e saber qual é a que pertence a cada indivíduo é uma pergunta sem resposta imediata, pois até que se prove tudo é apenas mera especulação. Até que ponto uma pessoa é capaz de suportar a tortura para defender um ideal ?

terça-feira, 31 de março de 2009

"[...] Era uma casa muito engraçada.[...]"


A Casa

Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.



Sempre que se recitam esses versos de Vinícius de Moraes surge em seguida como de forma quase que obrigatória o som das risadas. Mas me questiono se um homem com formação tão crítica e social, afinal era formado em Letras e Direito, queria provocar esse tipo de riso infantil ao lerem uma produção poética sua. Talvez, seu intento fosse fomentar uma discussão acerca da realidade do nosso povo e sobre a estranha capacidade de nós brasileiros rirmos de coisas sérias, como se fossemos evoluídos ao ponto irônico de um Voltaire. Enfim... fato é que essa casa, com paredes em verso, demonstra uma perspectiva poética capaz de alcançar uma realidade social e disso V. de Moraes mestre na arte do sentir e transcrever, vivendo em cidades com Rio de Janeiro, Los Angeles, uma Paris pós-guerra e Lisboa, além de outras tantas cidades visitadas pelo cumprimento da função diplomática, construiu com palavras aquela casa-crítica e assim representar em versos as inúmeras casas imagéticas que habitavam aquela sua careca fenomenal e altamente sagaz.




“O riso é a fraqueza, a corrupção, a insipidez da nossa carne” (Umberto Eco)


"Neste mundo, fala-se muito levianamente do riso, que, para mim, é uma das mais sérias questões humanas." (Wilhelm Raabe)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Buscando o absurdo em A. Camus

Seria possível uma lógica que levasse o homem de sua vida até sua morte? Para A. Camus sim e suas explicações apresentadas no mito de Sísifo dão-nos a entender que viver num mundo totalmente fundamentado no pensamento racionalista configura desde o início nossas falhas obtemperando qualquer pretensão de escolha no saber ou até mesmo na forma de viver. Por isso negar a razão é inútil, mas é justamente esse sentimento de frustração numa luta incessante que cria o absurdo. Seria nas palavras de A. Camus o “divórcio entre o homem e sua vida, o autor e seu cenário”
Suscitar essa busca do absurdo implica em desafiar na metafísica de nosso mundo interior o encontro de uma das tantas verdades que podem existir. Essa verdade absurda cuja localização está entre paradoxos pode surgir de várias formas, principalmente quando a razão entra em choque com a inteligência e necessariamente quando isso acontece tem-se o esperado absurdo. Esse Bucenturo confessa que a luta é árdua.
Por que lutar então? (Muitos poderiam pensar). Se Sócrates fosse indagado, responderia “conhece-te a ti mesmo”; S. Freud, por sua vez, poderia dizer que “as vezes um charuto é somente um charuto” e você pensando com a inteligência sem razão se perguntaria “até onde eu me conheço?” ou “quando que um charuto não é um charuto?”. Para tanto Diz Albert Camus : “[...] vocês me ensinam que este universo prestigioso e multicolor se reduz ao átomo e que o próprio átomo se reduz ao elétron. Tudo isto é bom e espero que vocês continuem. Mas me falam de um sistema planetário invisível no qual os elétrons gravitam ao redor de um núcleo. Explicam-me este mundo com uma imagem. Então percebo que vocês chegaram à poesia: nunca poderei conhecer. Tenho tempo para me indignar? Vocês já mudaram de teoria. Assim a ciência que deveria me explicar tudo acaba em hipótese, a lucidez sombria culmina em metáfora, a incerteza se resolve em obra de arte. Que necessidade havia de tanto esforço?” ¹
Diante disso o autor desenvolve como fica o comportamento do homem que consegue evoluir a essa antilógica que é o absurdo. E em suas observações revela que pode o homem diante das conseqüências do absurdo: 1- Revoltar-se; 2- Sentir uma liberdade 3- Sentir uma paixão. Assim para o autor toda essa busca ocasiona um retorno para um lugar onde talvez uma nunca esteve mas que certamente existe porque foi criado pelo homem para a humanidade, mas infelizmente foi abandonado em algum lugar da história. Esse lugar é a consciência e o processo que permite seu retorno é a busca do absurdo.
O sentimento que comprova a chegada a algum lugar é quando se percebe que tudo que era vão vai se tornando real. É quando a mágica das aparências começa a desaparecer e o que era aparente, placebo de uma realidade fugaz e racional transforma-se em essência para um nada. No abismo onde o nada é profundo é que residirá o absurdo, potente em sua inexistência nostálgica e apurada com a descoberta dos paradoxos desapaixonados. Eis as coordenadas companheiros, lançai-vos em nome da vida enquanto é prematura nossa morte.
¹Albert Camus in "O mito de Sísifo". Editora Record.2008