sábado, 29 de setembro de 2007

Tobias Barreto homenageia o povo Paraibano .


Aos oficiais da guarnição da Paraíba (Improviso)

“No coração desta gente
O bravo sufoca o ai;
Que ferros!... O cedro ingente
De um golpe derreia e cai.
– “Ceda a república insana:
Se enfim não se desengana,
Espada pernambucana,
Desembainha-te e vai!

Vai tu que não geras fracos,
Cidade que abres-te aos sóis;
Cornélia, mãe de cem Gracos,
Viúva de oitenta heróis.
Quem há que o colo te dobre?
Terrível, sincera, nobre,
Limpaste as faces de cobre
Das batalhas nos crisóis.”

É uma canção magoada
Que a Pernambuco votei;
Quando a luz da sua espada
Em prol da pátria invoquei.
Ela hasteou a bandeira...
Perante sua fileira
O Paraguai não sorri;
E o grande leão do Norte
Vem tornar ainda mais forte,
Mais leões – ei-los aqui!

Vão levantar-se altos feitos
Que esta idade inda não viu;
E o palpitar destes peitos
O Paraguai já sentiu,
Ele fita os horizontes;
Se debruça sobre os montes,
Escuta um murmúrio além...
E ouvindo enormes rugidos,
Exclama: – ‘Stamos perdidos!
São os do Norte que vêm!...



*Fala-se em improviso por que a formação dessa poesia se deu quando a guarnição da Paraíba estava de passagem por Pernambuco . Ainda nessa época Tobias Barreto era estudante de Direito e aproveitando o momento em que a guarnição passava, atirou com sua arma as letras que formaram a poesia .

*Tobias Barreto - Sergipano (1839-1889)
*Livro Dias e Noites

sábado, 15 de setembro de 2007

sábado, 1 de setembro de 2007

"A Ilha Morta"



“Os primeiros albatrozes do dia anterior, raros e surpreendentes, de uma hora para outra tornaram-se muitos . Albatrozes, petréis, fulmares e aves menores, aos montes . Não entendi direito . Milhares de aves voando em círculo e pousando numa espécie de laje ou ilha à proa . “Não é possível”, pensei, passando a mão nos binóculos, depois de conferir a carta . A 420 milhas a leste de Mar Del Plata, que eu soubesse, não havia nenhuma ilha nesse setor do Atlântico . Mas era verdade : Na frente do meu nariz estava uma pedra infestada de aves, com ondinhas ao redor e tudo . Cinco mil e trezentos metros de profundidade, nenhuma anotação na carta....seria possível?”
“Desengatei o piloto e, com as mãos no leme, fiz uma manobra de aproximação . Era sim uma ilha flutuante e morta . Uma impressionante baleia boiando inflada, tão coberta de vida , de aves em movimento, que era impossível identificá-la . Fiz duas voltas completas e continuei para minha ilha de verdade, ao sul . E, pensando nas desertas fábricas de matar baleias que logo encontraria, não lastimei a sua morte . Oxalá todas as baleias morressem assim, em liberdade, como ilhas flutuantes, tornando-se alimento para aves e peixes ao invés de abatidas como bois .”

Esses dois parágrafos correspondem ao livro de Amyr Klink , "Mar sem Fim", onde o explorador brasileiro viaja de Parati, cidade do Rio de Janeiro, até Parati no mesmo ponto de partida , contudo o diferencial é por onde a viagem vai passar, que é o continente sul , a Antártica, numa viagem de circunavegação pelo mesmo .
Ocorre que em seu livro esse trecho se constitui em uma das mais belas narrações ao longo da história . Amyr consegue associar em suas letras tanto a sensibilidade do homem que mesmo experiente se impressiona com uma baleia, quanto a um pesquisador que se coloca narrador científico mostrando como uma mera baleia morta pode ser uma ilha de vida . Sozinho no Parati I (nome do barco) Amyr desbrava as águas numa viagem insólita , porém a vida o cerca de todas as formas com vários tipos de aves e peixes . Esse capítulo do livro “A Ilha Morta” serve inclusive como ponto de partida para as demais críticas empreendidas ao longo da jornada acerca das fábricas de matar baleias e da famigerada demanda que consome sofrimento , pois ninguém mata essas baleias à toa , existe um mercado para esse negócio de sangue e dor . Mas a vida continua ... a ilha do Amyr , a de verdade, fica bem mais ao sul . E tem no livro muito mais histórias semelhantes a essa, se você quiser fazer essa viagem também leia o livro e sinta-se à vontade sendo parte da tripulação .


*Negrito nosso
*Circunavegação : Navegar em torno de ilha, mar ou continente . Rodear navegando .