terça-feira, 31 de março de 2009

"[...] Era uma casa muito engraçada.[...]"


A Casa

Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.



Sempre que se recitam esses versos de Vinícius de Moraes surge em seguida como de forma quase que obrigatória o som das risadas. Mas me questiono se um homem com formação tão crítica e social, afinal era formado em Letras e Direito, queria provocar esse tipo de riso infantil ao lerem uma produção poética sua. Talvez, seu intento fosse fomentar uma discussão acerca da realidade do nosso povo e sobre a estranha capacidade de nós brasileiros rirmos de coisas sérias, como se fossemos evoluídos ao ponto irônico de um Voltaire. Enfim... fato é que essa casa, com paredes em verso, demonstra uma perspectiva poética capaz de alcançar uma realidade social e disso V. de Moraes mestre na arte do sentir e transcrever, vivendo em cidades com Rio de Janeiro, Los Angeles, uma Paris pós-guerra e Lisboa, além de outras tantas cidades visitadas pelo cumprimento da função diplomática, construiu com palavras aquela casa-crítica e assim representar em versos as inúmeras casas imagéticas que habitavam aquela sua careca fenomenal e altamente sagaz.




“O riso é a fraqueza, a corrupção, a insipidez da nossa carne” (Umberto Eco)


"Neste mundo, fala-se muito levianamente do riso, que, para mim, é uma das mais sérias questões humanas." (Wilhelm Raabe)